24/01/2013

Antibióticos na produção animal


O Brasil se transformou em um dos principais lideres mundiais na produção de alimentos de origem animal e anualmente é comercializado e utilizado um número significativo de agentes microbianos para a produção animal (60% dos antibióticos produzidos no mundo são consumidos pelos animais). Muitas dessas moléculas não são totalmente metabolizadas no organismo animal e seus resíduos têm sido detectados em amostras de solo, água superficial e subterrânea. (Regitano, 2010). Uma vez no ambiente, os resíduos de antibióticos podem acumular-se no solo, sofrer lixiviação ou, ainda, ser transportados, via escoamento superficial, para os corpos hídricos (Díaz-Cruz et al., 2003). No Brasil, a pecuária utiliza contamina, em sua cadeia produtiva, mais água do que as cidades.

Os órgãos regulamentadores e de pesquisa têm dado atenção especial aos riscos à saúde humana, representados pela exposição direta aos resíduos de antibióticos em alimentos de origem animal, mas sabe-se muito pouco sobre os efeitos, em diferentes organismos animais, da exposição crônica, em longo prazo, a baixas concentrações desses compostos (Boxall, 2004). O país carece de pesquisas na área, não dispondo, entre outros, de levantamentos sobre a ocorrência de resíduos dos principais antibióticos de uso veterinário no ambiente, seus possíveis efeitos sobre o ecossistema e, ou, tampouco qualquer estudo a respeito da dinâmica desses compostos em nossos solos. 

Nas criações de animais, os antibióticos podem atingir diretamente o ambiente por meio das excreções dos animais em pastejo ou, então, podem ser indiretamente disseminados ao ambiente pela aplicação de esterco animal no solo (Blackwell et al. 2007) Até 95 % dos ingredientes ativos administrados aos animais podem ser integralmente eliminados sem sofrer qualquer metabolização no trato digestivo animal (Sarmah et al., 2006) Apenas nos Estados Unidos, a produção de excrementos de animais é de 1,4 bilhão de toneladas por ano, ou 104  mil kg por segundo. A quantidade descomunal de dejetos produzidos pelos animais criados para consumo é quase sempre lançada, sem tratamento, na terra e na água.

Fazendeiros em muitos países usam os antibióticos em duas ocasiões: primeira, para tratar animais que estão realmente doentes, e segunda, para ajudar no processo de engordar esses animais ou prevenir doenças veterinárias. Entretanto, mesmo o correto uso dos antibióticos pode ocasionar uma disseminação de bactérias resistentes às drogas. Elas então se reproduzem e trocam genes com outras bactérias resistentes. E justamente porque as bactérias estão em todos os lugares, elas eventualmente podem passar dos animais para as pessoas.

A cada dia, novas evidências mostram que corremos o risco de perder a proteção que os antibióticos nos dão contra diversas bactérias que causam doenças aos seres humanos. Baixas doses de antibióticos nos animais aumentam o número de bactérias resistentes em ambos: animais e humanos. “O uso exagerado de antibióticos é comum hoje em dia, o que tem ocasionado uma maior mortandade entre os animais, pois seu sistema imunológico se torna mais fraco”, disse o pesquisador chinês Qi Guanghai. “Os antibióticos permanecem também no corpo das pessoas que consomem esses animais”. Estudos recentes provam que a carne de galinha vendida nos supermercados contém frequentemente germes resistentes aos antibióticos. E além de tudo, no Brasil, antibióticos são utilizados irregularmente em larga escala e de formas proibidas pelo Ministério da Agricultura (MAPA).

Desde 2005, a Dinamarca aplica regras cada vez mais rígidas quanto ao uso de antibióticos na criação de porcos, bois, frango ou quaisquer outros animais. Embora essa transição tenha sido bastante calma e sem problemas com a indústria da carne, o peso médio dos porcos caiu no primeiro ano. Os fazendeiros dinamarqueses decidiram então deixar porcas e leitões viverem juntos, como medida para aumentar a procriação e melhorar o sistema imunológico dos animais, o que foi feito com sucesso. A lição é que ao melhorar as condições dos animais, se exclui a necessidade de usar antibióticos.